Às vezes é uma música. Uma música que me lembra um momento feliz, um momento em que estava sem ti ou algo que cantávamos juntos. Outras vezes, um local. Um sítio que visitámos juntos, algum sítio onde planeámos ir, mas adiámos demais ou onde íamos sempre. Muitas vezes algo que alguém diz. Uma recordação, um "lembras-te quando..?" e tu ainda fazias parte dessa vida. Oh, tantas vezes, coisas que vejo. Uma fotografia, um antigo saco de natal com os nossos nomes escritos. Por vezes, é um dia específico, um momento específico ou determinado cheiro. Às vezes, as lembranças vêm sozinhas, sem ser preciso mais nada. Um momento feliz que queria partilhar contigo e, de súbito, uma tristeza imensa, a sensação de abandono que já me é familiar e depois, uma onda de raiva. Contra ti, contra mim, contra o mundo. Por tudo o que deixaste para trás, pelo que construímos, pelos meus avós, que gostavam tanto de ti, por continuar a sentir a tua falta (ou a falta da tua presença) ainda ao fim deste tempo todo. Por causa das coisas que nos faziam rir ao mesmo tempo, pela nossas expressões, pelo beijinho atirado da porta, antes de a fechar, pelo primeiro sorriso da manhã e o último da noite, pelo que me fazia rir em ti, pelas formas esquisitas que os teus sinais formavam, pelos planos que fazíamos, pelas nossas rotinas, pelos nossos gostos que se completavam tanto, pelos carinhos e miminhos que guardávamos um para o outro, pela nossa parede pintada de uma cor que tanto significava para os dois, e que agora, sem ti aqui, não faz sentido, pelas discussões de séries, pelos risos abafados que tinhas e por tudo isto ainda me fazer chorar.
E agora, tenho que viver sem ti. E só quero saber fazê-lo.
Tu estás livre e eu estou livre E há uma noite para passar Porque não vamos unidos Porque não vamos ficar Na aventura dos sentidos
Tu estás só e eu mais só estou Tu que tens o meu olhar Tens a minha mão aberta À espera de se fechar Nessa tua mão deserta
Vem que o amor Não é o tempo Nem é o tempo Que o faz Vem que o amor É o momento Em que eu me dou Em que te dás
Tu que buscas companhia E eu que busco quem quiser Ser o fim desta energia Ser um corpo de prazer Ser o fim de mais um dia
Tu continuas à espera Do melhor que já não vem E a esperança foi encontrada Antes de ti por alguém E eu sou melhor que nada
Refrão (3x)
Gosto tanto tanto desta música. Gosto tanto, muito mais ainda do Tiago Bettencourt.
E esta música...faz-me pensar. Em relações, perdidas, não encontradas ainda, relações pensadas e desejadas, relações com e sem propósito, relações desesperadas ou desespero entre relações. Faz-me pensar no medo que tenho de ficar sozinha (não de estar sozinha, mas de permanecer assim) e no medo que começo a aperceber-me que também sinto, talvez até em igual proporção ao anterior, de ter que começar uma nova relação. Dar-me a conhecer e conhecer outro. O medo do desapontamento, da descrença, do desinteresse, da revolta, do desprezo...sei lá. O medo de querer e não me quererem de volta. O medo de não querer e magoar alguém. O medo de não ser boa o suficiente, ou interessante o suficiente, ou inteligente o suficiente, ou bonita o suficiente ou conhecedora o suficiente. Cada vez mais me convenço que era tão melhor se eu não pensasse tanto. Era tão mais fácil se não me preocupasse. Era tão mais divertido se tivesse sempre a resposta pronta, a reacção certa, as capacidades adequadas. Era tão mais óbvio se fosse mais igual às outras pessoas, se fosse só mais uma feita do mesmo molde, que seguisse as mesmas modas, as mesmas tendências, os mesmos passos. Há dias em que desejava ser só mais uma e não ser eu.