Ontem tive um melt down. Estou naquela altura do mês e, como tal, estou sujeita a estados emocionais alternativos por falta das minhas hormonas do costume. E então, depois de um fim de semana na terra da minha avó, em que fui até às festas do Crato ver o Pedro Abrunhosa, cheguei a casa e chorei.
A culpa também é do Pedro Abrunhosa e do seu "Não Desistas de Mim" e de ele fazer os seus discursos no interlúdio das músicas em que referiu que nunca devemos deixar para depois o dizer aos outros o quanto os amamos. Porque o depois ou o amanhã pode não chegar e os sentimentos não podem ficar sem serem ditos.
Acho que nunca o fiz. Nunca deixei um carinho por dizer. Às vezes até me irritava a mim própria estar constantemente a declarar o meu amor por ele, quando muitas das vezes a única coisa que ouvia era um "eu também". E até tentava evitar a dizer, a ver se alguma das vezes era eu a dizer o "também". Mas era raro. Mas custa. Porque parecia que era eu a dizer o "não desistas de mim" mas a falar para o vazio porque ele já se tinha ido embora, já tinha desistido e tudo o que eu fazia era cantar para o eco da casa vazia.
Então ontem chorei.
Hoje, segunda.feira, início de mês, a primeira coisa que disse quando acordei não foi o típico "que dia é hoje?" nem o desesperado "já??" mas sim "hoje é o início de uma nova era".
E vou tentar. E vou lutar. E vou conseguir. Vou superar e deixar-me de mariquices.
Ele saiu, desistiu de mim mas eu não posso fazer o mesmo.
Será que ainda me resta tempo contigo, ou já te levam balas de um qualquer inimigo. Será que soube dar-te tudo o que querias, ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias. Será que fiz tudo que podia fazer, ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer. Será que lá longe ainda o céu é azul, ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul. Será que a tua pele ainda é macia, ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia. será que ainda te posso valer, ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer. Será que é de febre este fogo, este grito cruel que da lebre faz lobo. Será que amanhã ainda existe para ti, ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri. Será que lá fora os carros passam ainda, ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda. Será que a cidade ainda está como dantes ou cantam fantasmas e bailam gigantes. Será que o sol se põe do lado do mar, ou a luz que me agarra é sombra de luar. Será que as casas cantam e as pedras do chão, ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.
Será que sabes que hoje é Domingo, ou os dias não passam, são anjos caindo. Será que me consegues ouvir ou é tempo que pedes quando tentas sorrir. Será que sabes que te trago na voz, que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós. Será que te lembras da cor do olhar quando juntos a noite não quer acabar. Será que sentes esta mão que te agarra que te prende com a força do mar contra a barra. Será que consegues ouvir-me dizer que te amo tanto quanto noutro dia qualquer.
Eu sei que tu estarás sempre por mim Não há noite sem dia, nem dia sem fim. Eu sei que me queres, e me amas também me desejas agora como nunca ninguém. Não partas então, não me deixes sozinho Vou beijar o teu chão e chorar o caminho. Será, Será, Será!