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Não consigo evitar o ecoar de certas palavras na minha mente.
Não consigo evitar o efeito borboleta que têm em mim e na minha vida.
Não consigo evitar de ficar triste e com falta de amor próprio quando vejo outros casais a lutarem por resolver os problemas que teimam em se instalar no seio do casal.
Não consigo evitar os avanços de uma tristeza avassaladora que se apodera de mim quando penso no Natal que se aproxima, este que era um Natal em que tudo ia ser diferente. Depois de no ano passado termos decidido cada um passar o Natal com a sua família, este era o ano em que o Natal seria passado em conjunto, como uma pequena família que éramos.
Quase que não consigo evitar que me caiam as lágrimas.
Não consigo mesmo evitar a formação deste nó imenso na garganta.
Simplesmente não consigo. Tudo mudou. Há alturas em que não sinto nada, em que abafo pensamentos e sentimentos e emoções mas há outras alturas em que não consigo.
Hoje foi um dia daqueles.
Ainda ontem pensei que já há muito tempo não chorava. Pois hoje, na viagem de volta, fi-la toda a chorar como já não chorava há muito tempo.
Já passaram praticamente 12 horas desde esse momento e ainda me ardem os olhos. Para sair, tive que me maquilhar mais que o costume para não se notar o vermelho em redor dos olhos e as olheiras mais acentuadas. O olhar triste, nem com maquilhagem lá vai.
Acho que desde há uns tempos para cá a minha auto-estima se encontra em valores perigosamente baixos. O sentimento que de ele desistiu de mim, de como vejo outros casais com relações que, para mim, não valem tanto como a nossa valia, faz-me pensar que a culpa de tudo ter acabado, de ele ter desistido de mim, é minha, porque não fui mulher o suficiente para ele, para fazer um "nós" durar.
Hoje tive a facada final, o pontapé na cabeça, o espezinhar de todos os meus sentimentos.
Acho extraordinária a forma como certas pessoas são incapazes de assumir os erros. Acharem que são donos da razão e que só a eles lhe pertence o poder da palavra final, a única certa e incorrigível. Às vezes, a única forma de sabermos o que realmente pensam de nós era sabermos como desligar os filtros de boa educação, senso comum, empatia pelo próximo e barreira social. Às vezes o álcool apaga parte desses filtros. Mas custa mais quando não há teor alcoólico algum onde pôr as culpas. Quando tudo o que ouvimos é o que realmente essa pessoa pensa de nós, mas por incapacidade de dialogar de forma racional à qual se junta uma raiva desmesurada accionada por uma situação que até dá para rir, raiva esta que, sinceramente, devia estar a ser medicada. E foi isso que aconteceu. Hoje fiquei a saber o que o meu pai pensa de mim. E não aquilo que sempre me disse quando, aparentemente não dizia tudo o que tinha para dizer.
Finalmente percebi aquilo que o meu irmão sente quando o meu pai lhe diz coisas horrorosas como me disse hoje a mim. Quando isso acontecia, ficava raivosa, envergonhada e triste pelo meu irmão. Quando isso acontecia à minha mãe, o mesmo, acrescentando o facto de a incentivar para responder de volta com argumentos que eu sei que ela sabe e que deveria usar de volta. Nunca tinha acontecido comigo. Mas hoje foi o dia. O dia de saber. E segundo o meu pai e as suas ideias sempre certas, a culpa de estar sozinha e a razão pela qual vou ficar sozinha para sempre, é tudo culpa minha.
Tal como disse, mais umas pisadelas, uns pontapés e umas facadas.