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Às vezes sinto que vou ficar para sempre perdida aqui. Sozinha, sem esperança de algum dia ser encontrada por alguém... Sem ninguém me procurar. Sem me dar a conhecer.
E irrita-me ser assim.
Hoje estou assim. Nervosa, inquieta, assombrada, triste.
Não sei a razão, mas hoje, já por duas vezes tive um ataque de choro quase inexplicado.
Hoje uma amiga minha falava sobre a onicofagia, isto é, a tendência de roer as unhas e dizia que tal situação pode acontecer por imitação em idades jovens mas que se pode manter na adolescência e vida adulta devido a uma série de situações mas que normalmente ocorrem quando há carência de carinho, atenção e amor, situações de timidez ou vergonha, quando a pessoa sente que se deve auto-mutilar como castigo. Independentemente dos casos, está sempre ligado a distúrbios emocionais.
Desde há uns dias que ando super nervosa e quando tal acontece, nota-se perfeitamente nos meus dedos: unhas roídas e feridas abertas. Desde há uns dias que ando super nervoso, sem saber a razão.
Hoje, os meus pais discutiram. Eu sei que o assunto já acalmou mas há palavras que se dizem e que ficam.
Hoje, houve uma enorme discussão entre o meu grupo de amigos. Sinto que o nosso grupo de amigos ficou ferido, fracturado de algum modo. Duvido que algum dia volte a recuperar, a sarar em condições. Nunca mais vai voltar a ser o mesmo.
Hoje....caem-me lágrimas dos olhos enquanto uma simples frase me percorre a mente vezes sem fim. Uma frase que muitas vezes ouvi numa série que acompanhei há uns tempos, One Tree Hill.
Everybody leaves.
People always leave.
Hoje tomei uma decisão.
Não pude pensar muito nela, porque estava continuadamente a adiá-la. Porque estive a arranjar desculpas. Porque tive quase a desistir.
Precisava de um hobbie. De algo que me impedisse que o meu percurso diário fosse apenas trabalho-casa e casa-trabalho.
(o que eu precisava realmente era de me inscrever num ginásio, mas sozinha nem vale a pena, porque sem a obrigação de ir por combinação com outra pessoa, o mais certo era nunca lá pôr os pés e entre os pesos e a bicicleta cá de casa, vou-me safando)
Então decidi inscrever-me num curso de línguas, inglês, mais propriamente dito.
Preciso de desenferrujar, aumentar o vocabulário e treinar o inglês oral, que tanto jeito dá para as viagens por este mundo fora. E preciso de conhecer pessoas novas para sair deste leque limitado de opções, que é como quem diz, pessoas, em que me encontro.
Todos os astros estavam alinhados, mas ainda assim comecei a duvidar.
a) Saí mais cedo hoje
b) Parou de chover exactamente no momento em que saí de casa
c) Quando cheguei lá, estava uma senhora a entrar e segurou-me a porta
d) Pude logo nesse momento fazer o teste de diagnóstico de nível de conhecimento
e) Apesar de a promoção das inscrições já ter terminado na semana passada, a senhora foi simpática e fez-me o desconto na mesma.
Combinei ontem ir sair com uns amigos. Mas cansada do trabalho da parte da manhã e com a preguiça típica de um sábado à tarde, comecei, lentamente, a tentar arranjar razões para não ir. Que estava cansada, que a gasolina está cara, que estava a começar a chover, que não tinha vontade...
Acabei por ir. Foi engraçado. Bebemos uns cocktails e ouvimos música de outras décadas. Regressar atrás no tempo, através da música. Revivalismo, através do álcool.
Foi giro, mas estivemos só os 5. Num bar onde não havia ninguém interessante para se conhecer... não sei, acho que não é assim que vou conseguir sair desta vida de uma só pessoa.
E hoje dói-me a cabeça..
Tenho saudades dos beijos.
Tenho saudades da cumplicidade, dos olhares trocados sem serem precisas palavras, da troca de ideias telepáticas.
Tenho saudades do estremecer antes do primeiro toque, das borboletas que esvoaçam no estômago.
Tenho saudades do primeiro avanço e do recuo para logo voltar a avançar.
Tenho saudades de ser o mundo de alguém e de ser a primeira coisa que esse alguém pensa quando acorda e a última em que pensa, antes de adormecer.
Tenho saudades daquele momento infinito de paixão e êxtase, com pitadas de vergonha, que antecede o primeiro beijo. A mão dele na minha nuca e a minha no seu ombro. A carícia e finalmente o toque dos lábios.
Tenho saudades de tudo isso e muito mais.
Era tão mais fácil que fosse verdade que o amor espreita em cada esquina. Nestas esquinas por onde passo, não está nada à espera. Ou já lá alguém passou antes...
Porque é que a vida não é como nos filmes em que o amor nos bate à porta? Ou realmente chocamos com a nossa alma gémea numa esquina qualquer? Ou os nossos cães se apaixonam primeiro e depois nós?
[Note to self: arranjar um cão, just in case]
A minha mãe sempre me disse que as coisas pelas quais lutamos têm mais sabor, mas só queria que não fosse preciso uma luta imensa para tudo e mais alguma coisa.
Se calhar o amor não precisa de tanta luta. Simplesmente acontece. Mas para isso, devia sair desta casa. Mas não sei como.
E continuo a ter saudades...
Há pessoas que simplesmente não querem crescer.
Não quer dizer que andem por aí com pózinhos de fada, a voar... Simplesmente as suas atitudes, mentalidade e acções se pudessem associar às atitudes, mentalidade e acções de crianças.
Há pessoas que não querem avançar com a vida. Ou não arranjam emprego porque não querem ou simplesmente não o procuram manter. Porque viver em casa dos pais é tão mais prático... há aquele serviço gratuito de limpeza, refeições todas incluídas e ainda mudança dos lençóis e lavagem da roupa com alguma frequência. E a melhor parte é que: não se paga nada!
Mas isso é uma situação que, honestamente, me incomoda. Quando morava com os meus pais, nos últimos tempos, sinceramente, já me sentia presa a rotinas que não queria para mim, a falta de independência, a falta de sossego, de silêncio quando queria e a barulho quando assim o entendia. Chateava-me as refeições a horas certas mesmo quando não tinha fome. Chateava-me não poder estar sozinha nos meus ataques ninja de mau humor. E mais eu até tenho uns pais cinco estrelas e damo-nos todos muito bem. Ainda assim, sentia falta da minha liberdade, independência, do cantinho só meu. E foi uma das coisas boas que ganhei do relacionamento com ele. A minha casa. Agora, estou sozinha nela mas ainda assim sabe-me pelo mundo!
E é por isso que não entendo o ficar-em-casa-dos-pais-quase-até-morrer, não entendo quem fica em casa dos pais quase até eles o expulsarem. Não entendo o ter trinta e tal anos e achar normal estar em casa dos meus, o não ter necessidade desta liberdade que a mim me sabe tão bem, o não ter necessidade de avançar com a vida. Principalmente quando se está numa relação.
Tenho duas amigas que passam por uma situação destas com os respectivos namorados. Nenhum deles quer sair de casa, nenhum deles acha que está na hora de irem morar juntos, apesar de serem ambas relações duradouras.
Se fosse eu, duvidava desta dúvida. Mas isso sou eu.
Existem vários tipos de pessoas.
As que são completamente desbocadas e dizem tudo o que sentem e o que não sentem, a toda a gente, a toda a hora.
Existem aquelas que só falam das horas certas, como se tivessem tido tempo para pensar na resposta mais acertada.
E existem aquelas que guardam tudo para dentro, que não falam na devida hora, que ficam a remoer, que só desabafam com quem se sentem mais à vontade e não com as pessoas a quem realmente deviam dizer o que pensam e que, só quando explodem, toda a gente fica a saber o que pensam.
Hoje assisti a um exemplo deste último género. E não gostei do que vi. A minha colega A, completamente estafada de trabalhar e estudar ao mesmo tempo, diz sempre que sim à chefe, independentemente do seu cansaço, disponibilidade ou vontade. Diz que sim, simplesmente.
E eu não gostei do que vi. Ela completamente arrasada de cansaço, stressada ao extremo, frenética como nunca a vi, a sombra do que é. Tudo por não ser capaz de se impor e dizer que não.
E fiquei com medo, porque também eu faço parte deste último género de pessoa. Mas nunca me quero ver numa situação como a dela.
Num dia de manifestação massissa por todo o País, fico orgulhosa do nosso povo. Vejo, finalmente, os portugueses a falar, a aexercer a sua cidadania, a começar de novo, a virar uma nova página, a mostrar opinião, a erguer a sua voz contra o que não concordam. O Estado, no verdadeiro sentido da palavra, não é um grupo de políticos de compõem momentaneamente o governo. É sim, o povo, todos nós. E como tal, o povo sai à rua e falaa, exprime-se, diz que "não", dia "basta", diz "já chega", grita "que se lixe a troika, queremos a nossa vida de volta".
Somos parte da Europa, somos parte integrante desta comunidade europeia e assim sendo, temos que nos fazer ouvir e temos que mostrar que temos voz, que já não somos os cordeirinhos que nos fomos tornando por conformismo, porque não adianta, porque nos dói a barriga ou porque joga o Benfica. Não podemos continuar apenas a nod and wave como até agora, quais pinguins de Madagascar.
E foi hoje que, finalmente os velhos do Restelo deixaram de se queixar apenas nas mesas de café ou em casa, à mesa de jantar, e pegaram em cartolinas e marcadores e escreveram cartazes em que impunham um sonoro e inequívoco "Vão-se f*der"!
E já agora, depois de ver reportagens em directo em vários canais da televisão portuguesa, aproveito para referir a pequenez da nova geração de jornalistas, que fazem de pivôs e jornalistas de reportagem em horários não tão nobres a um sábado à noite, certamente porque não há mais ninguém para o fazer. Não sei se é o ensinamento nas faculdades de jornalismo que está a piorar e a voltar-se para o jornalismo sensionalista, se se trata apenas de jornalistas que fazem parte da geração-eu-vejo-a-tvi-desde-pequenino. Isto porque cada mais se vê com maior frequência, que a notícia mais sensionalista é a mais perseguida. E mesmo que uma notícia seja de conteúdo sério, tal como dizia um psiquiatra que agora me falha o nome que há pouco num painel de comentadores na Sic Notícias dizia "o conteúdo de uma mensagem é óptimo mas se a forma for inapropriada, é tudo para nada". E com isto quero apenas dizer que durante a noite de hoje, vi jornalistazinhos, ao invés de enaltecerem a coragem e a voz de um povo que até agora ouviu e calou, sofreu em silêncio cortes, impostos e austeridade, preferem focalizar toda uma reportagem única e exclusivamente numa minoria que se encontra em frente ao parlamento não para lutar pelos seus direitos, mas simplesmente para lutar. Preferem apontar as câmaras para a minoria que, por detrás da máscara do anonimato, destabiliza e tenta provocar a autoridade, manchando a manifestação pacífica que até aí se fazia sentir. E mesmo sendo a minoria, é na "tensão do ambiente" e no "estão a atirar pedras da calçada à polícia" que estes repórteres escolhem focar.